Comendo chocolate arranho o céu de minha boca e destilo gostosura de mundo. Ê trem bão comer chocolate se lambuzando de calorias. Vou inchando, inchando, inchando, parecendo vaca prenha. Engordando mais que cueca de político e gozando mais que transa em lua de mel. Afinal não é todo mundo que pode usufruir de um belo chocolate ao leite, derretendo goela abaixo, enchendo estômago de ceratonina. UAU! Gorda! Gorda! Gorda! Tô nem aí se pele vai se elasticiando, espichando, enchendo, inchando. Tô nem aí se vô ficá gostosona, de carne boa pra pegar! Não mesmo! Não quero cachorro em vida minha... cachorro que gosta de osso! Quero mais é que esse corpo que a terra NÃO há de comer se lambuze nesse momento fanático e fantástico de tesão. Quero mais é que sociedade de mulheres tábuas se lixem! Pneus? E eu com isso? Não sô carro pra ficar preocupada com pneus elegantes, firmes, fortes, bem modelados, seguros, resistentes, permanentes...nem esquento moradia de piolho! Quero nem saber que roupa vou usar amanhã se elas não me servirem mais...saio feliz pra rua, sugando estômago, com passos desajeitados pela falta de movimento de corpo prensado...levarei São Paulo dentro de Brasópolis cantando mais que cigarra em manhã de sol. EITA EU! Sô livre pra carregar minhas banhas e chacoalhar barriga molenga, estufada, lindamente definida. Sô livre pra caminhar rasgando calça e deixando à mostra um bundão rechonchudo, chamativo...requebrando como só eu sei. Mulheres me olharão com ar de zombaria e eu gritarei: FODA-SE! Tão com fome? Tão infelizes? Não comem chocolate! Não comem chocolate! Não comem chocolate!
Um espaço onde posso deixar correr sangue mineiro...onde posso falar carregada de caboclagem...Um espaço onde montanhas, cachoeiras ,chão de terra e gosto de café torrado irão se misturar às palavras
Elisa di Minas

sábado, março 17, 2007
quarta-feira, março 14, 2007
PUTZ!
ralando sola de couro duro,
envelhecido e doído.
Trago na alma um suplicio,
um desejo, uma ânsia constante
de ser natureza, água, terra, ar, montanha.
Olho os lados de caminho
buscando céu amarelado das flores dos ipês.
Respiro a sensação de mundo
e tento não pensar em viver.
Tento estancar ânsia de silêncio,
pareço tão cansada!
Corro o tempo de menina e fecho olhar.
Minh`alma busca Pescador
de mãos calejadas e olhar doce.
Onde estão as enxurradas por onde eu andava?
domingo, março 11, 2007

Hoje vesti nariz vermelho e enfrentei calor, fila e seleção. Acomodei bunda no degrau e silenciei meio século, só no observar. Saltos finos, grossos, rasteirinhas, sapatões, tênis, apertavam o desejo de vencer. Olhei meus dedos que seguravam uma havaiana velha abaixo de jeans surrado...acho que só pra contrariar. Um protesto mudo, numa sociedade calada.
Vacas de presépio, aceitação incondicional. Abraços trocados, risos, ansiedades. Uma fumaça solta em local proibido, só pra rebelar. Olhar não encontrou lugar pra guimba e dedos amarelados apertaram fumo e se queimaram, só pra sentir que vivia. Observando passantes me dirigi pra matadouro 12 e me coloquei a disposição do carrasco. Abaixei cabeça e aceitei minha condição de verme...no peito um grito estacado, um suplicio indesejado, uma seleção mórbida, em país de palhaços!
No palco da seleção assassinei neurônios e vomitei o fel da aceitação.
Queria Presidente sendo selecionado, queria governadores, senadores, deputados, vereadores, prefeitos na fila de matadouro...queria...mas calei voz e olhar e num país de palhaços vesti minha máscara e dei cara pra apanhar...
Assim vivi dia de hoje, num silêncio macabro...de chinelo rasgado e cabeça vazia...assim mugi e ruminei minha condição de vaca-palhaça...e mais uma vez aceitei passar pelo mata-burro sem chegar a nenhum lugar!