
Hoje vesti nariz vermelho e enfrentei calor, fila e seleção. Acomodei bunda no degrau e silenciei meio século, só no observar. Saltos finos, grossos, rasteirinhas, sapatões, tênis, apertavam o desejo de vencer. Olhei meus dedos que seguravam uma havaiana velha abaixo de jeans surrado...acho que só pra contrariar. Um protesto mudo, numa sociedade calada.
Vacas de presépio, aceitação incondicional. Abraços trocados, risos, ansiedades. Uma fumaça solta em local proibido, só pra rebelar. Olhar não encontrou lugar pra guimba e dedos amarelados apertaram fumo e se queimaram, só pra sentir que vivia. Observando passantes me dirigi pra matadouro 12 e me coloquei a disposição do carrasco. Abaixei cabeça e aceitei minha condição de verme...no peito um grito estacado, um suplicio indesejado, uma seleção mórbida, em país de palhaços!
No palco da seleção assassinei neurônios e vomitei o fel da aceitação.
Queria Presidente sendo selecionado, queria governadores, senadores, deputados, vereadores, prefeitos na fila de matadouro...queria...mas calei voz e olhar e num país de palhaços vesti minha máscara e dei cara pra apanhar...
Assim vivi dia de hoje, num silêncio macabro...de chinelo rasgado e cabeça vazia...assim mugi e ruminei minha condição de vaca-palhaça...e mais uma vez aceitei passar pelo mata-burro sem chegar a nenhum lugar!
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