Arrebentando o fio tênue da linha que trago
percebo que sou humana
que os limites existem
e que , mesmo forte, um dia
a linha se arrebenta
apodrece, padece, desfalece, amortece.
Hoje arrebentou a força que carrego
e me deixei seduzir pelo momento
um arrebento cansativo eclodiu
coração gritou desejo de parar
e sentiu.
Agora respiro restos do que sobrou
de preguiça e sonolência
de tonturas e apagões
de desejo único
de não existência.
Devo parar
não desejo partir!
(feito ao som da melodia do silêncio num momento (des)humano de dor)
Um espaço onde posso deixar correr sangue mineiro...onde posso falar carregada de caboclagem...Um espaço onde montanhas, cachoeiras ,chão de terra e gosto de café torrado irão se misturar às palavras
Elisa di Minas

sábado, novembro 26, 2011
quinta-feira, novembro 17, 2011
Aconteceu
Era 12 o dia...era realidade, mudança, realização, felicidade e comemoração.
Era wagner o nome, assim como elisa, carmem, eliane, maria, catarina, carlos, antonio, jesus, marta, pedro, sebastião, francisco, geraldo ,infinito.Tempo de transformação!
Fiquei a noite toda com medo de dormir e acordar outra realidade.
Uma agonia impregnada, baixa ,sufocante e aguda rasgava minha pele e pedia basta!
Muitos viveram meu sofrimento, minha agonia, trilharam em vagões de ferro e fogo (até cheguei a reviver o chumbo), mas o desejo de mudança era a minha, era a nossa força.Uma força que nem sabia de onde vinha, mas vinha, chegava , impregnava e amortecia sofrimento.E seguia...cheguei a pensar que caminhava sobre pedras pontudas, mas que nada! Era caco de vidro em sola de pés, de muitos pés. E nos faziam mancar com o peso da carga egoista e desumana.
Por muitas noites deixei de dormir, assim como você. Delirios assombravam a escuridão. Descabelada eu gemia. E não eram gemidos de gozo não, eram gemidos de uma dor profunda que feria e arrebentava coração.Um espirito de união surgiu quando não mais aguentávamos. Não era necessário voz, bastavam os olhares de desespero. Eu sabia perfeitamente o que sentiam, porque era também sentimento meu. Era uma dor tão calada e sofrida que me lembrava partida de meu pai e minha mãe , de minha irmã e de minha filha. E quando o sol irradiava bom dia eu pensava nas crianças que me aguardavam, pensava nos funcionários , na minha responsabilidade... e seguia rumo a Pedra da Cruz que sempre me recebia com um sorriso (pra me dar mais alegria).
Tudo poderia ter sido tão diferente!
Possuo uma alma cabocla, trago nas mãos, no rosto, no cabelo, na feiura das formas e da pele uma simplicidade conquistada na caminhada ao lado de meu pai,que me ensinou que o respeito humano, que a verdade , que a honestidade ,que a afetividade e o amor são os unicos caminhos certeiros quando buscamos a felicidade nossa e do outro. Minha figura um bocado envelhecida e disforme ja não mais aguentava. Por dentro eu rangia e sangrava. Por fora eu observava, controlava meu impeto irrequieto e justiceiro e engolia sapos, carrapatos, cobras... e vomitava silêncio. Minha voz tinha que ser cortada e calada, não podia mais ser a causa do sofrimento do outro. Vocês não imaginam o quanto recorri a alma de meu pai, para que me iluminasse com a mansidão que carregou pela vida.Mas eu dava meu jeitinho mineiro e excomungava a peste que me assolava, e expelia (silenciosamente) o mal que tentava corroer. Um dia até cheguei a gritar, no silencio mais dolorido que eu tinha "Fora Satanás,vai-te reto coisa ruim, me mira mas me erra!". E suspirava profundamente antes que o ar me faltasse.
Não foi facil, envelheci as dores que não precisavam ter existido.
Mas renasci, assim como você ...renascemos...
Juntos, fortes...e estamos aqui.
Sem sacanagem, me dou direito total ao grito que estava engasgado:
ACONTECEUUUUUUU,Graças a Deus!
AGORA ESTAMOS VIVOS!
Era wagner o nome, assim como elisa, carmem, eliane, maria, catarina, carlos, antonio, jesus, marta, pedro, sebastião, francisco, geraldo ,infinito.Tempo de transformação!
Fiquei a noite toda com medo de dormir e acordar outra realidade.
Uma agonia impregnada, baixa ,sufocante e aguda rasgava minha pele e pedia basta!
Muitos viveram meu sofrimento, minha agonia, trilharam em vagões de ferro e fogo (até cheguei a reviver o chumbo), mas o desejo de mudança era a minha, era a nossa força.Uma força que nem sabia de onde vinha, mas vinha, chegava , impregnava e amortecia sofrimento.E seguia...cheguei a pensar que caminhava sobre pedras pontudas, mas que nada! Era caco de vidro em sola de pés, de muitos pés. E nos faziam mancar com o peso da carga egoista e desumana.
Por muitas noites deixei de dormir, assim como você. Delirios assombravam a escuridão. Descabelada eu gemia. E não eram gemidos de gozo não, eram gemidos de uma dor profunda que feria e arrebentava coração.Um espirito de união surgiu quando não mais aguentávamos. Não era necessário voz, bastavam os olhares de desespero. Eu sabia perfeitamente o que sentiam, porque era também sentimento meu. Era uma dor tão calada e sofrida que me lembrava partida de meu pai e minha mãe , de minha irmã e de minha filha. E quando o sol irradiava bom dia eu pensava nas crianças que me aguardavam, pensava nos funcionários , na minha responsabilidade... e seguia rumo a Pedra da Cruz que sempre me recebia com um sorriso (pra me dar mais alegria).
Tudo poderia ter sido tão diferente!
Possuo uma alma cabocla, trago nas mãos, no rosto, no cabelo, na feiura das formas e da pele uma simplicidade conquistada na caminhada ao lado de meu pai,que me ensinou que o respeito humano, que a verdade , que a honestidade ,que a afetividade e o amor são os unicos caminhos certeiros quando buscamos a felicidade nossa e do outro. Minha figura um bocado envelhecida e disforme ja não mais aguentava. Por dentro eu rangia e sangrava. Por fora eu observava, controlava meu impeto irrequieto e justiceiro e engolia sapos, carrapatos, cobras... e vomitava silêncio. Minha voz tinha que ser cortada e calada, não podia mais ser a causa do sofrimento do outro. Vocês não imaginam o quanto recorri a alma de meu pai, para que me iluminasse com a mansidão que carregou pela vida.Mas eu dava meu jeitinho mineiro e excomungava a peste que me assolava, e expelia (silenciosamente) o mal que tentava corroer. Um dia até cheguei a gritar, no silencio mais dolorido que eu tinha "Fora Satanás,vai-te reto coisa ruim, me mira mas me erra!". E suspirava profundamente antes que o ar me faltasse.
Não foi facil, envelheci as dores que não precisavam ter existido.
Mas renasci, assim como você ...renascemos...
Juntos, fortes...e estamos aqui.
Sem sacanagem, me dou direito total ao grito que estava engasgado:
ACONTECEUUUUUUU,Graças a Deus!
AGORA ESTAMOS VIVOS!
sábado, julho 16, 2011
Pisando em...
Nunca fui mulher de me preocupar com coisas chics. Nem sei bem o que é ser chic porque nasci cabocla de pai e mãe. Sempre arrastando chinelos velhos , cabeça ao vento , olhar embaçado e pescoço de girafa , fui vivendo. Vivendo a simplicidade de quem nasceu fora de época , em outro mundo. Ja quase centenária não me lembro de ter perdido um segundo sequer da vida me preocupando com o que urde sob meus pés. Amassaram barro , merdas , tropeçaram em pedras , se molharam , enrugueceram , doeram , calejaram.
Não sei se por desproteção divina , ou por ironia , ou por desumanidade , ou por sacanagem , sei lá eu, piso hoje no que serei amanhã. Você ja se imaginou pisando no futuro? Não?! Pois eu piso. Todos os dias , todos os dias eu piso no futuro. Sou privilegiada. Tenho sob meus pés o que nenhum de vocês tem: O FUTURO. Fique aí por uns minutos pensando como consigo isso. Pense , repense , medite ,aprofunde, busque ajuda , pesquise. Será que você consegue , como eu , pisar no futuro? Sei lá! Acredito que não!
Pois eu piso , e como piso!
Tente acompanhar comigo , aqui juntinho de mim. Espalharam frente à minha casa , assim de graça (não paguei nadinha por isso), um tapete riquissimo. Vale mais
que diamante , que ouro , que tudo que existe no mundo. Espalharam frente à minha casa um tapete, um tapete tecido de histórias , de alegrias , de sofrimento, de vitórias , de lutas , de tudo! Um tapete tricotado com mil vidas. MIL VIDAS! Um tapete que me lembra todos os dias o valor da vida. Um tapete de restos humanos , de ossos , de alças de caixões , de tecidos impregnados aos restos mortais. Um tapete de velas e flores ,de túmulos. Um tapete de cheiro fétido e asqueiroso. Um tapete que me provoca ânsias de vômitos e dores de cabeça. Piso nesse tapete todos os dias , não sei se sob meus pés existe restos de seu pai , sua mãe, seus irmãos , seus avós , seus tios , seus , suas...não sei!
Esse tapete está me levando à loucura! E foi depositado assim , jogado, amassado , como coisa sem valor , como entulho...na rua de frente da minha casa. Jogado , largado, abandonado , desrespeitado!Literalmente , piso no meu futuro! Literalmente eu piso!
Não sei se por desproteção divina , ou por ironia , ou por desumanidade , ou por sacanagem , sei lá eu, piso hoje no que serei amanhã. Você ja se imaginou pisando no futuro? Não?! Pois eu piso. Todos os dias , todos os dias eu piso no futuro. Sou privilegiada. Tenho sob meus pés o que nenhum de vocês tem: O FUTURO. Fique aí por uns minutos pensando como consigo isso. Pense , repense , medite ,aprofunde, busque ajuda , pesquise. Será que você consegue , como eu , pisar no futuro? Sei lá! Acredito que não!
Pois eu piso , e como piso!
Tente acompanhar comigo , aqui juntinho de mim. Espalharam frente à minha casa , assim de graça (não paguei nadinha por isso), um tapete riquissimo. Vale mais
que diamante , que ouro , que tudo que existe no mundo. Espalharam frente à minha casa um tapete, um tapete tecido de histórias , de alegrias , de sofrimento, de vitórias , de lutas , de tudo! Um tapete tricotado com mil vidas. MIL VIDAS! Um tapete que me lembra todos os dias o valor da vida. Um tapete de restos humanos , de ossos , de alças de caixões , de tecidos impregnados aos restos mortais. Um tapete de velas e flores ,de túmulos. Um tapete de cheiro fétido e asqueiroso. Um tapete que me provoca ânsias de vômitos e dores de cabeça. Piso nesse tapete todos os dias , não sei se sob meus pés existe restos de seu pai , sua mãe, seus irmãos , seus avós , seus tios , seus , suas...não sei!
Esse tapete está me levando à loucura! E foi depositado assim , jogado, amassado , como coisa sem valor , como entulho...na rua de frente da minha casa. Jogado , largado, abandonado , desrespeitado!Literalmente , piso no meu futuro! Literalmente eu piso!
sexta-feira, junho 24, 2011
volta
Estou aqui , de volta.
Só não sei de onde!
Nunca sei se estou indo ou voltando, ou se estou parada.
Pareço nunca sair do lugar...cansada
de burrices,
traições,
incompetências,
injustiças,
egoismos,
estagnações!
Cansada demais pra lutar
contra uma vaca velha
que muge no meu mundo
todos os dias
todossssssssssssss
Só não sei de onde!
Nunca sei se estou indo ou voltando, ou se estou parada.
Pareço nunca sair do lugar...cansada
de burrices,
traições,
incompetências,
injustiças,
egoismos,
estagnações!
Cansada demais pra lutar
contra uma vaca velha
que muge no meu mundo
todos os dias
todossssssssssssss
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
Sim, claro que não!
Estava eu sentada calmamente em frente à Igreja de São Sebastião aguardando a chegada dos cavaleiros. Numa demora tranquila, observava a beleza e calmaria das montanhas. Três crianças brincavam e azoretavam meu sossego. Em meio a tanta gritaria me esqueci das montanhas e passei a observá-las.
Dois eram, com certeza, irmãos. O terceiro parecia ser amigo dos demais. Correm de cá, de lá, gritam, reclamam, brigam, brincam. Tiveram idéia de ir no tiro ao alvo e vieram, empolgados, pedir dinheiro à mãe (somente nessa hora percebi a presença dessa figura). E inicia diálogo:
__Mãe, da R$2,00 pra jogar tiro ao alvo?
__Toma! (nem pestaneja, retira e entrega)
Eles correm. Passados menos que 10 minutos, eles voltam, nervosos:
__Mãe, fizemos 27 pontos. E pra ganhar precisa fazer 50 pontos. Dá mais R$2,00 aí.
__Nada disso, disse ela retirando a nota da bolsa e estendendo ao que parecia ser o mais velho. Nem pensar! Não me peça mais dinheiro! E entregou a nota.
Achei aquilo confuso, confesso que sorri cinicamente e continuei na minha silenciosa observação.
Voltaram correndo, nervosos e empolgados.
__Mãe, dessa vez fizemos 41 pontos, o Pedro conseguiu derrubar um de 10 pontos. Dá mais R$2,00?
__Eu já não disse que não era nem pra pedir mais? Nem pensar, isso é um roubo, estão fazendo vocês de bobos, vocês nunca conseguirão os 50 pontos e ficam jogando dinheiro fora.
__R$2,00 mãe, só R$2,00, disse o menor, estendendo a mão.
__Eu já disse que não, e se pedirem de novo levo vocês pra casa e acabou a festa, respondeu ela, retirando da bolsa a nota pedida e entregando às crianças.
Voltaram empolgadas para a barraca de tiros.
Muito confusa, eu pensava nas cenas e queimava miolos.
Eis que chega o pai e se aproxima,quase junto das crianças.
__Pai, quase ganhamos um DVD. Pra ganhar o DVD que ta lá , tem que fazer 50 pontos, quase fizemos.
__Vocês estão brincando do quê?
__Tiro ao alvo, responderam em coro.
__Arma? Vocês estão brincando com armas? Já não proibi de brincar com armas? Já não conversei em casa antes da gente vir pra cá? Não foi combinado?
__Mas pai, o DVD é bonitão, deve valer uns R$200,00 porque tem até microfone e caraokê , quase ganhamos.
__Vamos lá e vou mostrar pra vocês quem é bom de tiro. Vou trazer o DVD.
Saíram. Eu? Boquiaberta!
Voltam os quatro, sem DVD. O pai com cara de bravo fala pra esposa:
__Palhaçada, nunca alguém ganhará o prêmio. Roubada, dinheiro jogado fora!
A mãe olha e continua conversando com uma senhora ao lado.
As crianças buscam outro brinquedo. Retiram do bolso uma hélice com balão que ao ser enchido de ar e solto, faz a hélice girar, soltando sons agudos. Pai e filhos iniciam brincadeira com o objeto. O brinquedo do filho mais velho vai mais alto que o do pai e o menino brinca:
__Não sabe soltar, o meu vai mais altoooooo.
O pai se irrita:
__A hélice do que você me deu está torta, muito torta!
O menino mais velho verifica e diz que está perfeita. O pai retruca:
__Está torta e tenho certeza que você que entortou, tenho certeza disso!
O menino não toma conhecimento e continua na brincadeira.
O pai sopra demais o balão, que acaba estourando. O menino menor chora fazendo cena. O pai se dirige ao maior:
__Dá o seu pro seu irmão.
__Mas pai...
__Agora! Dá pro seu irmão, to mandando!
__Mas pai não fui eu que...
__Já mandei dar agora, foi você o culpado do outro ter estragado, você que entortou a hélice, foi sua culpa, você fez de propósito! DÁ PRO SEU IRMÃO!
Choro e lamentações. O pai fica indiferente e se aproxima da esposa e da senhora idosa. Conversam banalidades por um tempo, até que a senhora idosa vê aproximar o esposo e o chama.
Enquanto as crianças correm e atormentam a todos com esbarrões, gritos, empurrões , jogam papel de bala pelo chão , os adultos iniciam uma conversa empolgados, apontando várias direções:
__A casa ficava naquele morro, disse a mãe das crianças. Era horrível, meu bem. A gente tinha que levantar cedo, ir ajudar a tirar o leite, depois tinha o terreiro de café onde a gente tinha que ficar empurrando os grãos. E pegar lenha, então? Que horror! Minha perna voltava toda arranhada, picada. Era horrível demais!
__E o barro então, disse a senhora idosa, sujava o chão da cozinha que era de cimento liso, onde eu passava vermelhão pra dar aparência melhor.Ficava todo sujo e fedido.
__Era um terror! As laranjas caídas pelo chão, roupas com nódoas de banana e jabuticaba, roupas rasgadas de subir nas árvores , que a mamãe vivia remendando. Foi um tempo terrível, disse a mãe das crianças.
__Nem gosto de lembrar, respondeu a senhora idosa. Aquele povo que chegava fedendo suor vindo no sol quente montado em cavalos e ainda paravam na porta da sala pra pedir água. Alguns até pisavam na sala com o pé sujo!
__Não foi nada fácil, né papai? Pergunta a mãe das crianças.
__Graças a Deus tudo isso acabou, nem gosto de lembrar quando chegava o tempo da panha de café. Era um trabalhão danado ficar no meio do mato carregando sacos, levando café pra todo mundo, tinha que ficar ouvindo as lamurias do povo!
Deram boas gargalhadas , até que os meninos retornaram:
__Pai, mãe, dá R$7,00 pra gente pular na cama elástica? O homem falou que de três fica mais barato.
__EU JÁ DISSE QUE NÃO! Já não falei que não era para pedir mais dinheiro que eu NÃO ia dar, disse ela, retirando uma nota de R$10,00 e entregando-a ao mais velho.
__E traga o troco, disse o pai.
Conversa vai, conversa vem. Sempre relembrando os tempos horríveis, até que os três meninos voltam gritando:
__Dá mais R$1,00 mãe, a gente já deixou os R$10,00 e aí o homem falou que se a gente levar mais R$1,00 agora ele vai deixar por R$4,00.
O pai, histérico:
__Sua mãe já não falou pra vocês que não ia dar mais dinheiro? Não disse que era para trazer o troco? Não foi isso que ela mandou? NADA DE DINHEIRO! NADA DE PEDIR MAIS! CHEGAAAA!, disse ele, retirando do bolso uma nota de R$5,00.
Entregou-a ao menino mais velho, com uma clara recomendação:
__E traga o troco, nada de gastar mais, nem adianta pedir que não daremos mais!
Os meninos saíram correndo.
Eu me afastei confusa, começando a entender essa nova geração.
Sim, claro que não!
Dois eram, com certeza, irmãos. O terceiro parecia ser amigo dos demais. Correm de cá, de lá, gritam, reclamam, brigam, brincam. Tiveram idéia de ir no tiro ao alvo e vieram, empolgados, pedir dinheiro à mãe (somente nessa hora percebi a presença dessa figura). E inicia diálogo:
__Mãe, da R$2,00 pra jogar tiro ao alvo?
__Toma! (nem pestaneja, retira e entrega)
Eles correm. Passados menos que 10 minutos, eles voltam, nervosos:
__Mãe, fizemos 27 pontos. E pra ganhar precisa fazer 50 pontos. Dá mais R$2,00 aí.
__Nada disso, disse ela retirando a nota da bolsa e estendendo ao que parecia ser o mais velho. Nem pensar! Não me peça mais dinheiro! E entregou a nota.
Achei aquilo confuso, confesso que sorri cinicamente e continuei na minha silenciosa observação.
Voltaram correndo, nervosos e empolgados.
__Mãe, dessa vez fizemos 41 pontos, o Pedro conseguiu derrubar um de 10 pontos. Dá mais R$2,00?
__Eu já não disse que não era nem pra pedir mais? Nem pensar, isso é um roubo, estão fazendo vocês de bobos, vocês nunca conseguirão os 50 pontos e ficam jogando dinheiro fora.
__R$2,00 mãe, só R$2,00, disse o menor, estendendo a mão.
__Eu já disse que não, e se pedirem de novo levo vocês pra casa e acabou a festa, respondeu ela, retirando da bolsa a nota pedida e entregando às crianças.
Voltaram empolgadas para a barraca de tiros.
Muito confusa, eu pensava nas cenas e queimava miolos.
Eis que chega o pai e se aproxima,quase junto das crianças.
__Pai, quase ganhamos um DVD. Pra ganhar o DVD que ta lá , tem que fazer 50 pontos, quase fizemos.
__Vocês estão brincando do quê?
__Tiro ao alvo, responderam em coro.
__Arma? Vocês estão brincando com armas? Já não proibi de brincar com armas? Já não conversei em casa antes da gente vir pra cá? Não foi combinado?
__Mas pai, o DVD é bonitão, deve valer uns R$200,00 porque tem até microfone e caraokê , quase ganhamos.
__Vamos lá e vou mostrar pra vocês quem é bom de tiro. Vou trazer o DVD.
Saíram. Eu? Boquiaberta!
Voltam os quatro, sem DVD. O pai com cara de bravo fala pra esposa:
__Palhaçada, nunca alguém ganhará o prêmio. Roubada, dinheiro jogado fora!
A mãe olha e continua conversando com uma senhora ao lado.
As crianças buscam outro brinquedo. Retiram do bolso uma hélice com balão que ao ser enchido de ar e solto, faz a hélice girar, soltando sons agudos. Pai e filhos iniciam brincadeira com o objeto. O brinquedo do filho mais velho vai mais alto que o do pai e o menino brinca:
__Não sabe soltar, o meu vai mais altoooooo.
O pai se irrita:
__A hélice do que você me deu está torta, muito torta!
O menino mais velho verifica e diz que está perfeita. O pai retruca:
__Está torta e tenho certeza que você que entortou, tenho certeza disso!
O menino não toma conhecimento e continua na brincadeira.
O pai sopra demais o balão, que acaba estourando. O menino menor chora fazendo cena. O pai se dirige ao maior:
__Dá o seu pro seu irmão.
__Mas pai...
__Agora! Dá pro seu irmão, to mandando!
__Mas pai não fui eu que...
__Já mandei dar agora, foi você o culpado do outro ter estragado, você que entortou a hélice, foi sua culpa, você fez de propósito! DÁ PRO SEU IRMÃO!
Choro e lamentações. O pai fica indiferente e se aproxima da esposa e da senhora idosa. Conversam banalidades por um tempo, até que a senhora idosa vê aproximar o esposo e o chama.
Enquanto as crianças correm e atormentam a todos com esbarrões, gritos, empurrões , jogam papel de bala pelo chão , os adultos iniciam uma conversa empolgados, apontando várias direções:
__A casa ficava naquele morro, disse a mãe das crianças. Era horrível, meu bem. A gente tinha que levantar cedo, ir ajudar a tirar o leite, depois tinha o terreiro de café onde a gente tinha que ficar empurrando os grãos. E pegar lenha, então? Que horror! Minha perna voltava toda arranhada, picada. Era horrível demais!
__E o barro então, disse a senhora idosa, sujava o chão da cozinha que era de cimento liso, onde eu passava vermelhão pra dar aparência melhor.Ficava todo sujo e fedido.
__Era um terror! As laranjas caídas pelo chão, roupas com nódoas de banana e jabuticaba, roupas rasgadas de subir nas árvores , que a mamãe vivia remendando. Foi um tempo terrível, disse a mãe das crianças.
__Nem gosto de lembrar, respondeu a senhora idosa. Aquele povo que chegava fedendo suor vindo no sol quente montado em cavalos e ainda paravam na porta da sala pra pedir água. Alguns até pisavam na sala com o pé sujo!
__Não foi nada fácil, né papai? Pergunta a mãe das crianças.
__Graças a Deus tudo isso acabou, nem gosto de lembrar quando chegava o tempo da panha de café. Era um trabalhão danado ficar no meio do mato carregando sacos, levando café pra todo mundo, tinha que ficar ouvindo as lamurias do povo!
Deram boas gargalhadas , até que os meninos retornaram:
__Pai, mãe, dá R$7,00 pra gente pular na cama elástica? O homem falou que de três fica mais barato.
__EU JÁ DISSE QUE NÃO! Já não falei que não era para pedir mais dinheiro que eu NÃO ia dar, disse ela, retirando uma nota de R$10,00 e entregando-a ao mais velho.
__E traga o troco, disse o pai.
Conversa vai, conversa vem. Sempre relembrando os tempos horríveis, até que os três meninos voltam gritando:
__Dá mais R$1,00 mãe, a gente já deixou os R$10,00 e aí o homem falou que se a gente levar mais R$1,00 agora ele vai deixar por R$4,00.
O pai, histérico:
__Sua mãe já não falou pra vocês que não ia dar mais dinheiro? Não disse que era para trazer o troco? Não foi isso que ela mandou? NADA DE DINHEIRO! NADA DE PEDIR MAIS! CHEGAAAA!, disse ele, retirando do bolso uma nota de R$5,00.
Entregou-a ao menino mais velho, com uma clara recomendação:
__E traga o troco, nada de gastar mais, nem adianta pedir que não daremos mais!
Os meninos saíram correndo.
Eu me afastei confusa, começando a entender essa nova geração.
Sim, claro que não!
segunda-feira, janeiro 17, 2011
Realidades.
Aqui me pego, aos 53 anos, sentindo uma saudade enorme da crença e fé que eu sentia no trabalho que venho desenvolvendo por 25 anos. Um trabalho escolhido não como falta de opção, mas escolhido como única opção para eu ser feliz profissionalmente. Acredito que em decorrência da minha lerdeza natural eu tenha levado tanto tempo para perceber que vivi utopias. Fui utópica quando acreditei na valorização do educador, quando acreditei que o futuro seria melhor, quando acreditei que calma era necessário para dar tempo às mudanças. Fui infantil e sonhadora quando acreditei que os políticos acreditavam que a educação era um dos caminhos do crescimento humano e, por isso, investiriam nela ; quando acreditei na mudança política de nosso município , que veria município como um todo, sem divisão entre rede estadual/municipal , afinal sou brazopolense e fui importante para eles na hora do voto ; quando acreditei que o ser humano teria mais hombridade ; quando acreditei que todo profissional envolvido com a educação era uma pessoa humana em toda sua essência...
Fui inocente e sonhadora quando acreditei que “pior do que está não tem jeito”. Mas tem, e como!
Fui inocente e sonhadora quando acreditei que “pior do que está não tem jeito”. Mas tem, e como!
sábado, janeiro 01, 2011
ANO NOVO
Quando criança ficava aguardando entrada de ano novo
sempre na esperança e crença que algo ia mudar.
Na adolescencia aguardava ansiosa o ano novo
pra ir passear no "largo" da praça.
Quando adulta aguardava ano novo com certeza que minhas
promessas seriam cumpridas.
Na velhice aguardo ano novo com a certeza absoluta
que tudo continua igual.
sempre na esperança e crença que algo ia mudar.
Na adolescencia aguardava ansiosa o ano novo
pra ir passear no "largo" da praça.
Quando adulta aguardava ano novo com certeza que minhas
promessas seriam cumpridas.
Na velhice aguardo ano novo com a certeza absoluta
que tudo continua igual.
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