Elisa di Minas

Elisa di Minas

segunda-feira, dezembro 02, 2013

sobras


Existe sobras em mim, de tempo, de sonhos, de desilusões. Busquei as lembranças emaranhadas no nascer quebrado, moído e rabiscado... Encontrei cacos de poesias e de poeta, cheiros de infância e de velhice, nascer de homem e morte de amor, encanto de criança e quebra de desejo. Hoje me encontro cheia de sobras, de restos,de remendos. Me encontro em tudo, menos em mim!

quinta-feira, outubro 17, 2013

Merda!

Parece-me nunca ter tido necessidade de tomar uma decisão tão difícil! Anoiteci um dia impactada num traumatizante descobrir. Uma traição deformada e fantasmagórica me deixou puta! E puta continuei silenciosa, aquietada, parada, inerte. As estrelas, a lua, fantasmas e gritos começaram a me acompanhar nas horas angustiadas. Decidi acalmar...e acalmei tanto que sonhei assassinar, e, confesso, não me pareceu atitude aprovante nem para meu coração tão puteado. Então, fazer o que diante de infame descoberta? Meu sangue fervia, queimava, matava, envenenava e apertava uma garganta prestes a explodir. Puta que pariu! Caminhei lentamente até a cozinha, um cão uivava longe e dava sensação de filme de terror. Abri calmamente as portas do armário, toquei suavemente os pratos e copos parados na divisória do mundo e ataquei. Mas ataquei de um jeito que não deixava dúvidas nem aos defuntos que me avizinhavam. Fui, com esse meu jeitinho delicado e feminino, arrebentando tudo. Porra, que raio de merda é esse viver? Que se passa na "desombridade"? Que leva alguém a uma traição tão fedorenta e baixa? Os cacos foram se espalhando pelo chão, pelas paredes, pelo teto, pulavam, se batiam, se matavam. Nenhum foi poupado,todos foram destruídos e matados. O barulho despertou antecipadamente alguém que dormia sob mesmo teto, cambaleante, olhos estatelados, medrosos e silenciosos apontaram na porta, mas não durou sequer um segundo...desapareceram, sumiram, evaporaram. E no amanhecer do outro dia fui trabalhar cansada pela noite de faxina, recolhendo os cacos que a vida me reservara. Deixei de ser mulher, deixei de ser humana, deixei meu eu trancado no baú dos sentimentos que a vida se negava a me oferecer... E decidi virar vazia, vazia de amor!!!

quarta-feira, julho 10, 2013

Mulher nova


Não sou mulher nova, sou nova mulher! Hoje escorreguei do meu surrado sofá com único objetivo: Me fazer careca. Não suportava mais meus cabelos secos, quebrados, tortos, multicoloridos, estragados pelos 25 anos de tintura na tentativa de "esconder os fios brancos". Detesto ficar "chapada" como muitas mulheres por aí. Detesto ter que ficar pintando os cabelos com produtos que mancham e estragam minhas camisetas, toalhas e azulejos. Definitivamente não nasci mulher feminina, jeitosa, delicada...pra ser homem nasci somente com a falta do pinto. Minha força manual quebra canos e amassa peças delicadas, meus pés sobrevivem em meio a barros e pedras, minhas unhas precisam de alicates reforçados, minhas palavras soam balanceadas e desafinadas, meus traços são grosseiros e indefinidos. Não possuo nada de feminino. Então por que nasci mulher? Acho que nasci mulher por um fato muito simples:Gosto de homem! Então se tivesse nascido homem eu seria gay, sem dúvida alguma!!! Hoje - que já é ontem - acordei desnorteada pra me livrar de tudo que a sociedade impõe e comecei pelo meu cabelo. Fiquei matutando o porque dessa idiota mulher ficar se martirizando horas e horas para pintar os cabelos, sabendo que o fato fará surgir erupções no couro cabeludo que gerará mais coceira que piolho. E fiquei puta comigo mesma. Me senti idiota! Abandonei meu forte desejo de não sair de casa e sorri quando cabeleireiro me olhou com olhar silencioso de dúvida: PASSE A MÁQUINA NA MINHA CABEÇA! Minha voz firme não deixou questionamento. Ele pegou a máquina e PASSOU-A NA MINHA CABEÇA. Fui recolhendo com as mãos as mechas que caiam: brancas, castanhas, vermelhas, loiras, cinzas...olhava-as e jogava ao chão. LIBERDADE!!! Que sensação ma-ra-vi-lho-sa! Não acompanhei o "massacre". Somente olhei depois que tudo terminou. Sorri. Passei as mãos no meu "coco" vazio, me levantei, paguei os R$10,00 e só não cantei porque sou desafinada. Quando cheguei em casa encostei o nariz no espelho e percebi o quanto o tempo havia pintado meus cabelos. Percebi o quanto a vida havia arrancado de minha juventude. Percebi o quanto de história já havia vivido. Percebi o quanto me sentia bem sendo eu mesma, arrancando as máscaras que a sociedade, até aquele momento, havia me imposto! Confesso que senti uma pequenina ponta de revolta por ter demorado tanto em minha decisão.Na mediocridade humana, eu me tornei medíocre. Na tentativa de sobrevivência, eu me tornei máscara. Na tentativa de aceitação, eu fui o que não sou. Agora, no inicio das horas de meu novo nascimento, necessito somente de um chão de terra, de um fogão à lenha, de estrelas, montanhas e luas, de água e das pessoas que amo...pra seguir de volta pro mundo de onde nunca devia ter saído!!!!!!!!

sexta-feira, julho 05, 2013

Desistência?

Talvez seja a aproximação da velhice que causa tanto desconforto. Talvez seja o cansaço do tempo, o aproximar das férias, a apuração de uma dura realidade...talvez seja a dúvida, talvez seja a certeza! "Talvezes" que me incomodaram durante as 13:02h desde meu acordar nessa sexta-feira. Um arrepio desconfortante acompanhou minhas horas e ainda não consegui me livrar dele. Fiquei matutando com meu cérebro enquanto degustava uma empada, que seria meu almoço de hoje.As horas brincavam com minha agonia e engatinhavam. QUE HORRIVEL SENSAÇÃO DE INÉRCIA !!!! Percebia claramente os olhares sobre minha face e minha pele, sobre meu vestir simplório e acaipirado, sobre meu sorriso disforme e meus cabelos brancos. A agressividade apagada nos últimos 50 anos aflorou, um mal estar horrendo acelerou coração, dando fria sensação que morte me espreitava.Desci, tomei água, distribui sorrisos numa inquietante necessidade de respeito e afeto!E voltei pra sala que guardava corpos de falsidade e aparências...que guardava sorrisos maquiavélicos, que guardava olhares frios...e desumanos! Consegui controlar desejo de arrebentar muitos, de estraçalhar roupas e desnudar falsidade. Controlei, assim como agora controlo desejo de citar nomes e fatos... Entrei em transporte público, fechei olhar, serrei os pulsos e continuei fingindo dia que não existiu!!!

domingo, junho 16, 2013

invisibilidade

queria ser invisível, nada ser. morrer numa manhã de nascimento e viver na morte do dia. não consigo aquietar meu pensamento que vara noites e noites marcando olhar meu. nasci furiosa e desbravadora, mas mundo acalmou minhas caminhadas e me fez emudecer. não suporto arrogâncias e ditadorismo, não suporto os suportes que impõem pensamentos e atitudes. não sei como me livrar de mim. talvez não me suporte pela vivência calada e submissa na qual fui adulterada. me transformei no eu que não sou. sou o eu que não nasci. na verdade sinto somente vontade me afastar do que me transformei e sair pro nada!

sábado, junho 08, 2013

~iNsÔnIa~

dizem que insônia prejudica a saúde,dá rugas e cabelos brancos,envelhece,mancha a pele,aumenta estresse. e daí?que se fodam as rugas,pele,velhice,cabelos, estresse.afinal já sou velha mesmo, já sou feia mesmo já possuo pele de jacaré,já sou um monstro com prazo de validade vencido,já estou com calo no indicador já estou com vontade mandar tudo a puta que pariu,já estou... estou nada só estou solitária numa noite fria,cansada de nadas,sentindo falta de um vinho, um queijo e uma boa prosa... onde estão todos daqui de casa?

URUBUS

Por que essa foto? Porque conheci essa semana pessoas que vivem esperando a morte da bezerra pra darem o bote e comerem a carniça. E eu de pé manco e boca amarrada só olhando. Possuo a imbecilidade da crença no humano, mesmo esses malditos tendo me dado rasteiras e mais rasteiras pela vida. Nunca aprendo! Aí quando o fato acontece novamente sinto uma vontade desgraçada de ser depravada e falar os maiores palavrões que alguém ja foi capaz de criar. Mas nada disso falo. Me calo. Vomito. Junto ao vômito percebo dedos e mentes, crânios e línguas, pedaços podres de podres vidas. E me odeio por ser tão, tão, tão idiota! Saio excomungando dentro do peito e, abafando os gritos, eu olho minhas montanhas, minhas estrelas,meu céu...e me acalmo! E engulo todas as palavras, frases e textos que meu coração criou. E deixo que o tempo, no seu passar lento e inquieto, apague minha fúria. E me pego, me pego no colo de mãe e pai, colos que não mais possuo,e me aconchego na desilusão do viver. Torno-me cega e surda para sobreviver. E sorrio o sorriso feio e envelhecido que trago no peito. E durmo. Durmo porque amanhã nascerei mulher bruta e gritarei aos "quatro cantos do mundo', quatro não, quatro é muito pouco...gritarei nas infinitas curvas do universo o escárnio que sinto pelas pessoas, pelos urubus sangrentos e fétidos. Malditos! Malditos e malditos! Mas quando lua se despede, acordo e percebo que no ventre de minha mãe devo ter bebido líquido contaminado com veneno da quietude, porque me aquieto, engulo, sorrio...e permaneço nas permanescências da minha vida mulher, quieta, calada, engolidora de palavrões e de pragas...hoje decidi erguer meu pulso esquerdo (porque nele estão gravados os infinitos amores de minha vida) e mandar o mundo se fuder!!!!!!!!