Não sou mulher nova, sou nova mulher!
Hoje escorreguei do meu surrado sofá com único objetivo: Me fazer careca. Não suportava mais meus cabelos secos, quebrados, tortos, multicoloridos, estragados pelos 25 anos de tintura na tentativa de "esconder os fios brancos". Detesto ficar "chapada" como muitas mulheres por aí. Detesto ter que ficar pintando os cabelos com produtos que mancham e estragam minhas camisetas, toalhas e azulejos. Definitivamente não nasci mulher feminina, jeitosa, delicada...pra ser homem nasci somente com a falta do pinto. Minha força manual quebra canos e amassa peças delicadas, meus pés sobrevivem em meio a barros e pedras, minhas unhas precisam de alicates reforçados, minhas palavras soam balanceadas e desafinadas, meus traços são grosseiros e indefinidos. Não possuo nada de feminino. Então por que nasci mulher? Acho que nasci mulher por um fato muito simples:Gosto de homem! Então se tivesse nascido homem eu seria gay, sem dúvida alguma!!! Hoje - que já é ontem - acordei desnorteada pra me livrar de tudo que a sociedade impõe e comecei pelo meu cabelo. Fiquei matutando o porque dessa idiota mulher ficar se martirizando horas e horas para pintar os cabelos, sabendo que o fato fará surgir erupções no couro cabeludo que gerará mais coceira que piolho. E fiquei puta comigo mesma. Me senti idiota!
Abandonei meu forte desejo de não sair de casa e sorri quando cabeleireiro me olhou com olhar silencioso de dúvida: PASSE A MÁQUINA NA MINHA CABEÇA!
Minha voz firme não deixou questionamento. Ele pegou a máquina e PASSOU-A NA MINHA CABEÇA.
Fui recolhendo com as mãos as mechas que caiam: brancas, castanhas, vermelhas, loiras, cinzas...olhava-as e jogava ao chão.
LIBERDADE!!! Que sensação ma-ra-vi-lho-sa! Não acompanhei o "massacre". Somente olhei depois que tudo terminou. Sorri. Passei as mãos no meu "coco" vazio, me levantei, paguei os R$10,00 e só não cantei porque sou desafinada. Quando cheguei em casa encostei o nariz no espelho e percebi o quanto o tempo havia pintado meus cabelos. Percebi o quanto a vida havia arrancado de minha juventude. Percebi o quanto de história já havia vivido. Percebi o quanto me sentia bem sendo eu mesma, arrancando as máscaras que a sociedade, até aquele momento, havia me imposto! Confesso que senti uma pequenina ponta de revolta por ter demorado tanto em minha decisão.Na mediocridade humana, eu me tornei medíocre. Na tentativa de sobrevivência, eu me tornei máscara. Na tentativa de aceitação, eu fui o que não sou. Agora, no inicio das horas de meu novo nascimento, necessito somente de um chão de terra, de um fogão à lenha, de estrelas, montanhas e luas, de água e das pessoas que amo...pra seguir de volta pro mundo de onde nunca devia ter saído!!!!!!!!
2 comentários:
Muito inspirador amiga escritora.
bjs, amigo escritor...e to esperando um blog seu viu?
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