Elisa di Minas

Elisa di Minas

segunda-feira, agosto 17, 2020

Parada

Olho alienada 
Corto o corte profundo 
Vida que acaba. 

 Era pra ser 
 Diferente 
Dia e noite. 

 Olhar se perde 
Dentro de mim 
Odeio inércia. 

 Cala-te boca imunda 
Aprofunde a bunda 
E espere!!

sexta-feira, julho 24, 2020

Existo?

Um tempo tão curto, um escuro tão molhado e uma mulher carregada de sentidos que de tanto sentir parecem começar a morrer...

E hoje, desvinculada de sentidos, serenando nos rios de peito meu, sigo arranhando montanhas, decepando estrelas, cutucando lua e marejando alma. Montanhas de mar açoitam estalidos em dedos e, dedos nada serenos, deslizam teclado e choram traiçoeiros, deixando à mostra um corpo envelhecido e cansado dos quilômetros percorridos nas marés. Um tempo sem medidas, sem início e sem fim. Viver parece tão triste e emaranhado nas alegrias que senti. E nas alegrias despedaço os estilhaços que se romperam nos espelhos que vivi. Matei face que mãe pariu. Matei alegrias que pai plantou. Assassinei tempo e perdi meus sonhos. Em que esquina, ou rua, ou praça, ou estação derrubei as vontades, a força, a esperança? Procuro pés que estraçalhavam estradas, firmes em caminhar. Arrancaram Lua, ou Lua se esconde ,se afasta de mim? Por que secaram as lágrimas que molhavam olhar e iluminavam face de mulher? Em que estação perdi o brilho que existiu?

Oh velhice macabra, que se apodera de carcaça e leva, indiferente, a esperança de viver o passado que treme na saudade do que deixei de ser...e meus restos?...que restos?...

Pintor

Pintor de Almas


Um menino

Carrega tempo

Em vaso quebrado.

E sustenta

Os medos

Nos meios

Dilacerados das ruas

Sem curvas

Nos cimentos

Dos homens alheios.


Um menino segue

Parindo vagões

Criando estações

E resistindo ao chamado

Da vida.


Um menino...


Elisa di Minas

Em pedaços


Um menino

Discursa vida

Desmedida

E agarra as almas

Descabidas

Nos gritos silenciosos

Da navalha fria

Que corta

O tempo,

O vento,

A vida.


Elisa di Minas

Retrospectiva fora de hora

Retrospectiva Elisa

Nasci
Rastejei
Cresci
Multipliquei
Sobrevivi
Ainda...

Elisa di Minas

quarta-feira, julho 22, 2020

Só isso


Deixe o balanço 
Pra que eu possa ir
E vir
Sempre que o tempo
Permitir
E eu desejar
Ir e vir
Ir e vir 

Elisa di Minas

sábado, julho 18, 2020

Arremedo infeliz

"Arremedo infeliz de existência" 

 Deve ter nascido num dia de noite 
 E, no decorrer das luas, pintado de luto o seu céu
 Não deve ter chorado amores frustrados 
 E sim vomitado as faces sem véu. 
 Pobre garoto 
Jogado na vida 
 Perdido desejo de ser
 Achado desejo de renascer 
 Feliz ! 
 Faltou-lhe madrinhas encantadas,
 Rocas e fadas 
 Mas não poesias 
 Poesias não, poesias sobraram nas folhas em branco 
De um pranto que não morreu. 
Vá garoto
Dizer adeus e chorar e gritar 
 E esperar 
 Esperar que as voltas do tempo 
 Lhe tragam alento 
 De uma vida de paz.
 Vá, vá garoto 
Embarque nas brumas do vento 
 Abrace a si mesmo sem tempo 
 Arremate, costure a dor do momento
 Com outras que encontrarás 
 E chorarás, chorarás, chorarás. 
 Viver é um pranto infinito... 

 Elisa di Minas
Isolamento - Coronavírus "Viver sem tempos mortos", é porreta demais isso! O isolamento está provocando estranhezas na alma da gente. A maior estranheza que estou vivendo é a de mim mesma por não me reconhecer mais no que sou. Não sei mais se o passado me define porque ando sendo o que não sou, vivendo o que nunca fui, sentindo que o tempo atual está morto, mas não um morto comum e sim um defunto vibrante por viver. Ando confusa porque o que fui, o que o tempo fez de mim não vive mais, tive que matar o futuro que projetei e busquei, pra viver um presente sem chão andante, parado e estagnado no vazio da vontade de ser o que seria.